quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

5.  Cortes e Secções

A complexidade de arestas invisíveis (traço interrompido) que na repre­sentação das projecções ortogonais de uma peça pode ocorrer, principalmente quando essas arestas são em grande número ou quando a sua importância é da mesma ordem que as arestas exteriores, inviabiliza de certo modo e em termos práticos a representação nos moldes apresentados.
Neste contexto, imagine-se por exemplo um edifício e a representação de um dos seus alçados por forma a permitir a visualização do seu interior, isto é das arestas que definem as várias paredes, vãos de portas e janelas, lanços de escada e patamar, caixas de elevadores, etc. A "confusão" de arestas invisíveis seria tal que a própria representação de arestas visí­veis e portanto exteriores se apresentaria quase imperceptível.
Um processo de representação designado Corte constitui o modo mais simples, mais cómodo e mais exacto de tornar clara e extremamente legí­vel a representação do interior das peças.
De acordo com a própria designação, trata-se efectivamente de um corte na peça. Tão simplesmente, um corte capaz de permitir retirar da peça uma parte por forma a que se apresente visível o seu interior, isto é, passem a ser visíveis as suas arestas interiores. Obviamente que cortar a peça em termos de representação é uma atitude criteriosa que obedece a convenções bem especificas.
Estas convenções estabelecem a necessidade de clarificar fundamen­talmente os seguintes dois aspectos:

- Como e por que "zonas" da peça foi estabelecido o corte.
- As arestas que se apresentam visíveis na representação de uma peça, são na realidade visíveis ou resultaram visíveis a partir da adopção de um corte.

São dois aspectos fundamentais cujo esclarecimento deve ser inerente à própria representação de projecções ortogonais que utilizam cortes.  





Cortes e Secções  






5.1.  Representação e referenciação de cortes

A representação por projecções ortogonais em número de vistas necessárias  e suficientes da peça da Fig. 5.1 conduz  às Projecções Ortogonais Múltiplas apresentadas.

  
Fig. 5.1 - Vistas necessárias e suficientes com representação de arestas invisíveis de uma peça

A consideração de um possível corte por forma a tornar visíveis as arestas invisíveis, consistiria em adoptar um plano designado plano de corte, nos termos apresentados na Fig. 5.2 e proceder à representação obtida depois de retirada a parte da peça entre o plano de corte e o observador.

 
 Fig. 5.2 - Adopção de um plano de corte

Em termos de projecções ortogonais obtém-se a representação da Fig. 5.3. 
Esta representação numa situação em que venha a ser objecto de leitura, merece os seguintes comentários:

-  As arestas visíveis que se apresentam corresponderiam à partida a arestas visíveis?     Nada  é indicado em contrário.
-  Como saber da existência do furo de menor diâmetro. A perda de informação obrigaria a uma terceira vista, solução pouco conveniente por contrariar o carácter simplificativo que a ideia de cone na representação deve assumir.  

 
Fig. 5.3 - Interpretação da peça descrita na Fig. 5.4  

Assim, uma posterior leitura das projecções ortogonais (Fig. 5.3) conduziria à interpretação descrita na Fig. 5.4. De facto muito longe do objecto de representação!
O  problema é ultrapassado mediante o estabelecimento de um critério de representação e referenciação:
Informar que as arestas visíveis resultam de um corte, é estabelecido pela adopção de tracejado na representação das faces obtidas por efeito do corte. isto é, na "zona maciça" da peça.
Informar qual o plano de corte considerado, é estabelecido pela sua referenciação na projecção ortogonal (Planta ou Alçado) em que o plano de corte se apresenta inequivocamente de frente ou de nível respectivamente.
No exemplo em análise (Fig. 5.5), o corte é referenciado em planta e representado em alçado.  

Fig. 5.5 - Referenciação de plano de corte e representação do corte.  

A eventual perda de informação por ausência de qualquer representação em alçado do furo de menor diâmetro, é ultrapassável, mediante uma translacção do plano de corte por forma a "contemplar" também esse furo (Fig. 5.6-a).  

A representação correcta da peça em projecções ortogonais utilizando cortes (e neste caso sem qualquer apresentação de arestas invisíveis), inclui uma inequívoca referenciação do plano de corte (Fig. 5.6-b), como se referiu.  
As projecções ortogonais assim apresentadas têm como única leitura possível a peça dada (Fig. 5.2), como seria de desejar.  

Fig. 5.6 -Adopção de um plano de corte adequado, mediante translação e apresentação das projecções ortogonais.







5.2.   Representação e referenciação de secções  

Associado à ideia de corte surge também um outro conceito não menos importante e de grande utilização na representação de peças em casos mais específicos.
Com efeito e nos termos da definição de cone apresentada, pode destacar-se a existência de um superfície - a superfície de corte, que cor­responde à parte maciça' da peça intersectada pelo plano de corte. Por outras palavras, trata-se da superfície correspondente à intersecção do plano de corte com a peça.
Designada por secção, esta superfície, que para a peça e plano de corte da Fig. 5.2 se apresenta na Fig. 5.7, é em geral de grande utilização em peças de tipo lineares, isto é, peças em que uma das dimensões é muito maior que as outras duas (Fig. 5.8).

Fig. 5.7 - Secção da peça apresentada na Fig. 5.2 e segundo o plano de corte aí considerado


Fig. 5.8 - Representação de Secções
  a) Secção de tubagem; b) Secções de uma asa de aeronave;  c) Localizações possíveis da representação de uma secção



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